Lixo espacial pode dificultar uso de satélites no futuro, diz especialista
Mais um objeto espacial deve cair na Terra nos próximos dias. Agora, trata-se
da sonda interplanetária Phobos-Grunt, lançada de uma base do Cazaquistão e que
se perdeu no espaço. Segundo especialistas, ela deve "aparecer" em algum ponto
do planeta a partir de 3 de dezembro. O caso alerta, mais uma vez, para a
quantidade de objetos espaciais que são lançados sem preocupação com o fim de
sua vida útil. "Podemos chegar a uma época em que não poderemos mais usar
tecnologias como o satélite devido ao grande número de dejetos que vão estar no
espaço", explica Renato Las Casas, professor do Departamento de Física do
Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A Nasa já informou que a quantidade de detritos suspensos no espaço alcançou
um ponto crítico, o que gera perigo, principalmente, para satélites e
astronautas. De acordo com a agência espacial americana, são tantos os objetos
que vagam pelo espaço no momento que é grande a chance de colisão. Com isso,
ainda mais lixo seria gerado, aumentando os riscos de danificar outros aparelhos
espaciais. "Os detritos espaciais aumentam geometricamente", declara Las Casas.
Embora a ONU tenha um subcomitê jurídico que aponta diretrizes para o uso
espacial, os países dificilmente as cumprem, e acidentes graves já ocorreram em
decorrência do acúmulo de aparelhos e fragmentos deles no espaço. Na opinião de
Las Casas, a legislação não ganha força porque as agências espaciais estão mais
preocupadas com o lucro que suas atividades podem gerar.
Quando o lixo espacial vira terrestre
Quando os objetos espaciais
param de funcionar como deveriam (por perder sua validade ou ser afetado por
algum problema), perdem a velocidade com a qual orbitam a Terra. Quando essa
velocidade diminui muito, a força gravitacional terrestre puxa os objetos em
direção ao planeta, gerando as quedas. Thais Russomano, coordenadora do Centro
de Microgravidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS) afirma que, apesar da frequência com que detritos de lixo espacial
retornam à Terra, a probabilidade do objeto acertar alguém é rara porque nosso
planeta tem mais água do que terra - e esta, por sua vez, não é totalmente
habitada.
Estatisticamente, a chance é pequena de algum objeto espacial cair em porção
habitada. Mas especialistas que procuram a sonda russa projetam que sua queda
possa ocorrer sobre os territórios dos Estados Unidos, China, África, Austrália,
sul da Europa ou Japão. Já foi divulgado que os EUA e a China têm mísseis
capazes de abater a espaçonave, que pesa 13,5 t. Contudo, esta proposta só
aumentaria ainda mais o número de detritos espaciais.
Segundo Thais Russomano, explodir satélites ou outros objetos espaciais pode
agravar ainda mais o problema, pois vários componentes, bem como a poeira
originada na explosão, ficariam orbitando o planeta.
Há solução?
Se a população mundial começou a se preocupar com o
lixo produzido no planeta apenas há 50 anos, a consciência de que a atividade
espacial também produz dejetos veio ainda mais tarde. O professor da UFMG relata
que há 20 anos cientistas já falavam em lixo espacial, mas em lugares restritos.
A preocupação com o tema é recente e é consequência dos artefatos que volte e
meia caem e são divulgados pela mídia.
Thais Russomano diz que já existem planos de que as agências espaciais,
responsáveis por terem colocado os satélites (ou outros objetos) em órbita ou
mesmo tenham produzido lixo cósmico de outras formas, comecem um processo de
limpeza. No entanto, o custo da limpeza é muito alto e ainda não há solução para
este problema.
Já Renato Las Casas conta que existem ideia para se fazer esta faxina - como
uma grande rede que recolheria os dejetos ou pistolas a laser que consumissem
com os detritos. Porém, todas elas são impraticáveis por enquanto. "Por
enquanto, o que podemos fazer é diminuir o envio de artefatos para o espaço",
alerta.
Uma medida apontada por Las Casas seria a instalação obrigatória de um
dispositivo que o lançasse para mais longe da Terra após sua vida útil - não
evitaria o lixo, mas diminuiria a concentração dele na órbita da Terra.
A sonda perdida
A missão da sonda interplanetária Fobos-Grunt seria
de 34 meses e teria o objetivo de trazer a Terra uma amostra de 200 gramas do
solo de Marte. O projeto custou US$ 170 milhões e tinha a intenção de estudar a
matéria inicial do sistema solar e explicar a origem de Fobos e Deimos, a
segunda lua de Marte, e de outros satélites naturais do sistema solar.
A tentativa anterior da Rússia de enviar um aparelho a Marte, em 1996,
terminou fracassada depois da queda da sonda Mars-96, no oceano Pacífico, sem
sequer alcançar a órbita terrestre
Nenhum comentário:
Postar um comentário