Se durante a Guerra Fria a corrida espacial envolvia apenas
os Estados Unidos e a antiga União Soviética, atualmente esse quadro
apresenta mudanças. "Naturalmente, as grandes potências estão recebendo
concorrência de outros países, mesmo que atualmente o mercado
aeroespacial seja basicamente dominado por Rússia, Estados Unidos e
Europa. Assim, países como Ucrânia, Índia e China estão entrando nessa
disputa também", afirma o professor de engenharia mecânica da
Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Gurgel Veras.
Dentro desse aumento de importância dos países emergentes no mercado
aeroespacial, qual o papel do Brasil? "O País está entrando no mercado
em um nicho, lançando satélites comerciais em órbitas mais baixas, mas
com a vantagem de ter a melhor posição geográfica para a atividade. Nós
podemos lançar sete satélites por ano, no máximo, e não temos condições
de fazer o lançamento de satélites muito grandes", detalha Veras.
Para entender o avanço da participação do Brasil na área é preciso
voltar às origens da Agência Espacial Brasileira (AEB), fundada em 1994,
durante o governo Itamar Franco, para substituir a Comissão Brasileira
de Atividades Espaciais (COBAE), com caráter militar, criada na década
de 1970. Com o fim da Guerra Fria e da bipolaridade entre Estados Unidos
e União Soviética, muda o contexto mundial e surge a necessidade do
País ter um órgão de instância civil para lidar com a cooperação
internacional na área espacial, que até então era responsabilidade do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entidade focada
principalmente na área de pesquisas.
Inicialmente, a AEB era vinculada diretamente à Presidência da
República, mas, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso, passou a
fazer parte do Ministério da Ciência e Tecnologia, enfrentando
dificuldades para coordenar, com cerca de 50 pessoas, o projeto espacial
de um país com pouca experiência na área. "A agência enfrentou vários
problemas para exercer a tarefa de executar a política espacial
brasileira, pois precisava de gente especializada, o que conseguiu pouco
no início, fator determinante para que não tivesse muita força durante
vários anos. Com a crise no governo FHC, as verbas diminuíram, e só
depois, por volta de 2004, a situação começou a melhorar, com mais verba
do que antes", relata José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de
Cooperação Internacional da AEB.
Atualmente, após projetos de parceria com potências e empresas
estrangeiras nas décadas de 70, 80 e 90, com um projeto de cooperação
com a China - iniciado em 1988, interrompido durante o governo Collor e
retomado na gestão seguinte - o País tem planos de aumentar suas
atividades espaciais. Dentro dessa diretriz, estão fora de cogitação
interesses militares e tentativas de explorar o espaço ou mandar o
primeiro brasileiro à Lua.
"Em 1988, o Brasil fez um acordo de assessoramento remoto com a
China, e, desde então, lançamos três satélites - em 1999, 2003 e 2007. O
próximo, CBERS 3, deve ser lançado em 2012 e, em 2014, será lançado o
CBERS 4. A nossa grande missão é aumentar consideravelmente a atividade
espacial brasileira: enquanto cinco satélites foram lançados em 19 anos,
nós queremos lançar quatro em quatro anos. Missões à Lua, por exemplo,
não são nossa prioridade, e o programa espacial brasileiro na era civil
não tem fins militares, tampouco temos programas tripulados. A atividade
espacial tem de atender às necessidades do País, melhorando o
desempenho da indústria e a vida das pessoas. Se no passado, o poder
militar foi indispensável para um país se tornar uma grande potência,
hoje isso provavelmente não é mais verdade", conta Monserrat Filho.
Gurgel Veras afirma que, apesar de não ter interesses de realizar
viagens à Lua, o País tem recursos para criar o seu próprio satélite e
crescer dentro do quadro espacial mundial. "O Brasil quer se colocar
entre as dez maiores potências da área, e, para isso, é necessário ter
um programa espacial, pois todas as demais têm, mudando a imagem que
ainda passamos de país agrícola e atrasado nesse quesito", analisa.
Diferentemente do Brasil, a China segue firme em seu objetivo de
mandar um homem à Lua entre 2020 e 2030. Mas, depois de tantas
expedições que já mostraram tudo o que se poderia saber sobre o solo
lunar, qual a necessidade real de uma viagem tripulada ao satélite? "Os
chineses querem ir à Lua simplesmente para mandar uma mensagem política e
econômica ao mundo de que só eles e os Estados Unidos foram lá, e que
eles são tão bons quanto os americanos. É muito mais para se posicionar
como uma liderança mundial, é pura propaganda; e como não falta dinheiro
a eles, a China vai mesmo mandar um homem para a Lua", declara o
professor de Engenharia Mecânica da UnB.
Outras potências da área, como os russos, apesar de poderem, não têm
interesse em tripular uma viagem à Lua. "Eles não se interessam por
isso. Se quisessem, já teriam conseguido também. Com um pouco de tempo,
eles poderiam mandar uma nave para o espaço e depois mandar suprimento
para lá, mas não é algo que lhes parece importante", afirma Veras.
Além dos interesses ambiciosos dos ricos países emergentes, o
professor aponta outras interessadas em crescer dentro do setor
aeroespacial. "Novas empresas americanas, criadas por bilionários da
internet, como o cofundador da Space X Elon Musk, estão entrando com
tudo no mercado, fazendo contato com a Nasa (a agência espacial
americana) e produzindo foguetes poderosos", assegura.