Medições e interpretações feitas pelo Telescópio Espacial Hubble têm
sugerido que as porções de matéria escura em um aglomerado chamado
Abell 520 pode ter se “deslocado” dos seus homólogos de matéria
visível.
Um relatório publicado no Astrophysical Journal
confirma a presença de um “amontoado gigantesco” de matéria escura com
poucas galáxias visíveis no centro de Abell 520, um local onde ocorreu
uma grande colisão de várias galáxias. Este indício foi identificado
pela primeira vez em 2007, mas os astrônomos inicialmente pensaram se
tratar de um falso sinal. Agora que as leituras foram checadas e
confirmadas, os teóricos estão se esforçando para tentar explicá-lo.
“Nós não estávamos esperando isso”, comentou o astrofísico Arif Babul, da Universidade de Victoria. “Segundo
a nossa teoria atual as galáxias e a matéria escura devem ser
encontradas juntas, mesmo que ocorram colisões. Mas não é isso que está
acontecendo em Abell 520. Lá, a matéria escura parece ter se unido,
formando um núcleo escuro, mas na maioria das galáxias associadas no
aglomerado a matéria escura parece ter seguido em frente. Esperávamos
que quando olhássemos novamente, anos depois, o núcleo escuro não
existisse mais, mas em vez disso, mostra-se com maior potência do que
antes”, relatou o pesquisador.
Acredita-se que a matéria escura responda por 83% da matéria encontrada
no Universo, e enquanto ela não emite qualquer radiação
eletromagnética em si, sua presença pode ser detectada através da
influência gravitacional de sua massa – chamado de lente gravitacional.
A matéria escura foi detectada pela primeira vez há 80 anos, e é
conhecida entre os físicos como a “cola” que mantém as galáxias juntas
em aglomerados.
Um estudo prévio da matéria escura em uma colisão galáctica – no
aglomerado Bullet Cluster , localizado três milhões de anos-luz da
Terra – mostrou que a matéria escura passou pelo local do acidente,
juntamente com suas galáxias, mas a temperatura altíssima ocasionou a
emissão de raios-X, empilhando a matéria escura no centro. No
aglomerado Abell 520 a matéria escura fica para trás com todo o gás, à
medida que as galáxias “andam”.
“Sabemos
de talvez seis exemplos de alta velocidade de colisões galácticas de
aglomerados, onde a matéria escura foi mapeada. Mas o Bullet Cluster e
Abell 520 são os dois que mostram a evidência mais clara de fusões
recentes e são incompatíveis com os outros”, comentou James Jee, astrônomo da Universidade da Califórnia.As possíveis explicações oferecidas até agora pela equipe não são
particularmente reconfortante. Uma teoria é de que Abell 520 possui uma
interação mais complicada do que a encontrada em Bullet Cluster, com
três grupos colidindo-se, em vez de apenas dois. Outra opção é que
algum tipo de matéria escura possa ser “pegajosa”, interagindo com ela
mesma e com a matéria regular. Uma terceira possibilidade é de que o
núcleo da galáxia contém muitas galáxias, mas que são muito tênues para
serem observadas.
Jee disse: “O
resultado é um quebra-cabeça. A matéria escura não se comporta como o
previsto, e não é obviamente claro o que está acontecendo. Talvez uma
teoria sobre a formação de galáxias e matéria escura possa explicar o
que está ocorrendo...”.
O próximo passo é a construção de uma simulação de computador para
recriar a colisão que formou Abell 520 para entender se nossa atual
compreensão sobre a matéria escura está errada. Se for este o caso,
então o problema deverá ser entregue na mão de físicos especialistas em
partículas para tentarem encontrar novas teorias que explique as
atuais interpretações da matéria escura nestes aglomerados.
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