Nova missão da Nasa a Marte é de alto risco, adverte especialista
O astrônomo britânico que líderou uma missão fracassada a Marte, a Beagle 2,
disse ao programa Material World da BBC Radio 4 que a nova missão americana ao
Planeta Vermelho, o Mars Science Laboratory, é de altíssimo risco.
Colin Pillinger, professor de Ciências Planetárias da Open University da
Grã-Bretanha, comentou que nesta sexta-feira, dia marcado para o lançamento da
nova missão americana, o clima entre seus colegas na Nasa deve ser de
preocupação.
Desde a década de 1960, dezenas de missões robóticas foram direcionadas a
Marte, com o intuito de coletar informações sobre as condições do planeta e sua
história, além de abrir caminho para uma possível missão tripulada.
A maior parte dessas missões fracassou, levando cientistas a ponderar,
brincando, sobre a existência de um grande diabo galáctico que se alimentaria de
sondas enviadas a Marte. Outros falam da "maldição" do Planeta Vermelho.
Fobos-Grunt
O caso mais recente de missão fracassada a Marte - ou quase fracassada, já que os cientistas ainda estão tentando salvá-la - foi o lançamento da sonda russa Phobos-Grunt, no dia 9 de novembro.
O caso mais recente de missão fracassada a Marte - ou quase fracassada, já que os cientistas ainda estão tentando salvá-la - foi o lançamento da sonda russa Phobos-Grunt, no dia 9 de novembro.
Apesar de ter sido lançada com sucesso, os cientistas russos não conseguiram
colocar a nave na direção correta (seu destino seria uma das luas de Marte) e a
missão está presa na órbita da Terra.
Depois de duas semanas de tentativas, a Agência Espacial Europeia conseguiu
estabelecer contato com a sonda.
Agora, a agência europeia está trabalhando com cientistas russos para
identificar o problema da sonda e consertar seu motor. "Eles não conseguem dar
ignição no motor", disse Pillinger. "As baterias da nave estão acabando e uma
vez que isso aconteça, será o fim da missão."
Ele explicou que o caso da missão liderada por ele, a Beagle 2, lançada em
2003, foi diferente: "A Beagle chegou a Marte mas foi na descida que o problema
aconteceu. A descida é sempre a fase mais difícil."
Pillinger disse que o grande desafio em missões como essas não é
necessariamente a distância. "Podemos ir muito mais longe. Hoje mesmo estávamos
discutindo a possibilidade de irmos às luas do planeta gigante (Júpiter) para
reexaminar Europa e buscar evidências de vida lá."
Pillinger explicou que quanto mais longe vai uma missão espacial, mais falhas
acontecem. "Cada uma dessas falhas, se você não consegue resolver o problema,
significa o fim da missão", explicou.
A estratégia usada pelos cientistas é criar duplicatas de cada sistema.
Quando um aparelho falha, o outro assume seu lugar.
"Você constrói as naves com a maior quantidade de sistemas duplicados
possível, mas há um limite, porque quanto mais você constrói, maior e mais
complicada fica a nave", diz ele.
"O problema da Beagle é que ela tinha tão pouca massa que não podíamos
construir nenhum sistema duplicado", observa. "No caso da Phobos-Grunt, eles
tinham alguns sistemas duplicados, mas não tinham um sistema duplicado na área
de telecomunicações da nave."
Sonda Curiosity
Nessa sexta-feira, os americanos estão lançando a missão Mars Science Laboratory, cuja estrela é a imensa sonda Curiosity. Pillinger disse que a missão enfrenta agora riscos muito altos.
Nessa sexta-feira, os americanos estão lançando a missão Mars Science Laboratory, cuja estrela é a imensa sonda Curiosity. Pillinger disse que a missão enfrenta agora riscos muito altos.
"A Nasa descobriu no passado que é um risco alto aterrissar em Marte, e a
maioria dos êxitos alcançados foram situações onde havia duas naves duplicando o
sistema inteiro", disse. "Assim, se uma dá errado, eles aprendem com isso e
asseguram que a outra tem melhores chances."
"Eles estão preparados para fazer isso com as últimas sondas que enviaram a
Marte. Eles esperavam aterrissar a Spirit em uma parte mais tranquila de Marte
na antecipação de que aprenderiam mais com essa missão para depois lançarem a
Opportunity a um ponto geológico mais interessante. No final, as duas
quebraram", explica.
Na verdade, a sonda Opportunity não quebrou. Depois de cerca de sete anos
explorando Marte, ela se prepara para enfrentar o rigoroso inverno marciano e os
cientistas da Nasa não acreditam que a sonda sobreviva ao frio extremo.
Experimento arriscado
"Dois terços das missões fracassam", disse Pillinger. Quanto às chances de sucesso da nova missão americana, Pillinger hesitou em arriscar um palpite.
"Dois terços das missões fracassam", disse Pillinger. Quanto às chances de sucesso da nova missão americana, Pillinger hesitou em arriscar um palpite.
"As chances são tão boas quanto os engenheiros puderem assegurar. Você testa,
testa e testa e nunca lança algo que não tenha chances de sucesso", disse
Pillinger contou que a nova missão é um grande experimento. "Eles vão testar
um novo sistema de aterrissagem."
"A Curiosity é do tamanho de um carro pequeno, o maior veículo já lançado. Já
a Beagle 2 era do tamanho de uma roda de carro", observa.
"Na Beagle, nós usamos um sistema em que a nave é embalada com sacos cheios
de gás e acoplada a um paraquedas. Quando ela toca o chão, ela joga os sacos
fora e vai embora", disse.
"Dessa vez, eles vão sobrevoar o local e baixar o veículo com cabos. Quando a
sonda tocar o chão, vão cortar os cabos", explica. "É um grande experimento, e
de alto risco. Eles têm uma chance única de sucesso."
"Alguns engenheiros da Nasa devem estar extremamente preocupados, mas devem
estar também confiantes de que fizeram o melhor possível", disse.
Vida em Marte
O grande tamanho da sonda Curiosity se deve ao fato de que ela não será movida a energia solar. O robô é munido de um gerador radioativo que lhe fornece energia constantemente, permitindo que ele viaje para mais longe e mais rapidamente.
O grande tamanho da sonda Curiosity se deve ao fato de que ela não será movida a energia solar. O robô é munido de um gerador radioativo que lhe fornece energia constantemente, permitindo que ele viaje para mais longe e mais rapidamente.
E enquanto explora Marte, o robô estará procurando respostas para a pergunta
que há muito tempo os cientistas tentam responder: haveria sinais de vida no
Planeta Vermelho?
"Eles vão fazer experimentos que vão contribuir muito nessa direção", disse
Pillinger. "Está carregando exatamente os instrumentos que eu teria escolhido."
Nenhum comentário:
Postar um comentário