Escaravelhos
se alimentam de estrume, esculpindo bolas com o excremento e rolando o
material para um lugar seguro
Os pesquisadores descobriram que, embora os olhos compostos desse inseto sejam fracos demais para ver estrelas individuais, eles utilizam a luz da Via Láctea para se manter em curso. Olhos compostos são aqueles formados por unidades visuais com pequenos sensores que distinguem a claridade da escuridão.
Os escaravelhos se alimentam de estrume, esculpindo uma bola com o excremento e rolando o esterco para um lugar seguro, onde é menos provável que seja roubado. No entanto, eles precisam de uma espécie de bússola que faça com que rolem o estrume em linha reta, em vez de círculos, impedindo que retornem ao monte de esterco.
Manter uma trajetória reta também é fundamental para o sucesso reprodutivo do escaravelho macho, já que o rolamento serve para impressionar as fêmeas com provisões para a futura prole. O besouro-fêmea coloca então um ovo na bola de excremento e a enterra numa rede de túneis com mais de um metro de profundidade. A bola serve de alimento para as larvas em desenvolvimento dentro dela.
Isso levou os cientistas a se perguntar como esses insetos eram capazes de rolar em linha reta na escuridão. “Mesmo em noites sem luar, os besouros ainda conseguiam orientar-se por caminhos retos”, disse Eric Warrant, autor do estudo e professor de zoologia da Universidade de Lund, na Suécia. “Isso nos levou a suspeitar que os besouros utilizavam o céu como guia – uma façanha que nunca foi demonstrada em um inseto”, afirmou.
Planetário
Para provar a tese, os pesquisadores criaram uma arena circular preenchida com areia e mediram o tempo que os besouros levaram para rolar uma bola de excremento do centro até a borda. O trajeto dos insetos foi filmado e eles foram equipados com pequenos pedaços de papelão para alterar seu campo de visão.
O resultado mostrou que os besouros que traçaram um caminho reto rapidamente até a borda o fizeram usando a luz natural da lua ou a luminosidade de um céu estrelado sem luar. Eles também rolaram em linha reta de forma eficiente quando uma imagem da Via Láctea foi projetada no planetário.
No entanto, em noites nubladas, quando seus olhos foram tapados por um pedaço de papelão, ou ainda nos casos em que foi projetado apenas um punhado de estrelas brilhantes no planetário, os insetos tiveram dificuldades significativas para seguir em um caminho linear.
Via Láctea é vista com detalhe no centro da foto
Via Láctea
Com base nesses experimentos, os pesquisadores concluíram que, na
natureza, os besouros não estavam usando estrelas individuais como
bússola, mas o conjunto brilhante de luz estrelar da Via Láctea."Esta descoberta representa a primeira demonstração convincente do uso do céu estrelado como guia de um inseto e fornece o primeiro uso documentado da Via Láctea para orientação no reino animal", escreveram os pesquisadores na revista “Current Biology”.
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