Uma análise de traços de uma partícula elementar descoberta no Grande
Colisor de Hádrons (LHC) no semestre passado indica "fortemente" que se
trata do tão esperado bóson de Higgs, conhecido como "partícula de
Deus", informou nesta quinta-feira (14) o Conselho Europeu para Pesquisa
Nuclear (Cern, na sigla em francês).
Mas o comunicado sobre as recentes descobertas feitas a partir de um
vasto volume de dados reunidos durante três anos de colisões no LHC não
afirma ter sido definitivamente descoberto o bóson, que se acredita que
dê massa às partículas fundamentais da matéria.
Representação gráfica de colisão de prótons realizada no acelerador LHC
As experiências são realizadas no LHC, o maior e mais poderoso
acelerador de partículas do mundo – um tubo circular de 27 quilômetros
de perímetro, enterrado 100 metros abaixo do solo, sob a fronteira entre
a Suíça e a França. O equipamento ficará fechado por dois anos para
manutenção, segundo anunciou o Cern em fevereiro.
As experiências feitas no local servem para testar teorias da física de
partículas. Dois feixes de energia são disparados em direções opostas, e
seu encontro gera milhões de colisões de partículas por segundo,
recriando efemeramente as condições ocorridas uma fração de segundo após
a grande explosão do Big Bang, teoria dominante sobre o desenvolvimento
inicial do Universo.
Estrutura do túnel de 27 km do LHC, construído na fronteira entre a França e a Suíça
Manutenção e reabertura
Quando o LHC reabrir, esse acelerador terá mais energia para
experiências inéditas. Os trabalhos de manutenção consistirão, entre
outros complexos procedimentos, em voltar a efetuar as interconexões
entre os ímãs do LHC para que, quando for ligado novamente em 2015, ele
possa funcionar a uma energia de colisão de 14 TeV (teraelétrons-volt ou
trilhões de elétrons-volt).
Nesse nível de energia – muito acima dos 8 TeV que alcançava ultimamente –, os experimentos serão capazes de confirmar com total certeza científica que essa nova partícula corresponde ao bóson de Higgs.
Além disso, essa complexa manutenção abriria portas para novas
descobertas em relação às partículas elementares e à chamada "matéria
escura", que supostamente constitui cerca de 84% do universo, segundo a
teoria vigente.
O físico britânico Peter Higgs, 'pai' da teoria do bóson de Higgs
O LHC foi criado em 2008 para colidir feixes de prótons ou íons pesados
lançados em direções opostas, com choques que foram capazes de gerar
intensidades de energia sem precedentes e que – após uma avaria inicial,
que obrigou os cientistas a interromper seu funcionamento em dez meses
entre 2008 e 2009 –, superou as expectativas dos cientistas.
"Temos todas as razões para estar muito satisfeitos com os primeiros
três anos de exploração do LHC", comentou o diretor-geral do Cern, Rolf
Heuer, ao comunicar a paralisação.
"A máquina, os experimentos, as instalações informáticas e todas as
infraestruturas funcionaram extremamente bem e agora temos um
descobrimento cientifico maior em nosso ativo", acrescentou.
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