sexta-feira, 15 de março de 2013

Ancoradouro romano é descoberto por acidente em Lisboa


Um ancoradouro romano que permaneceu em uso pelo menos até o século 4 foi descoberto por acidente em Lisboa durante as obras para construção de um estacionamento subterrâneo.
O sítio arqueológico foi encontrado em janeiro, a cerca de 150 metros da atual margem do Rio Tejo, na Praça D. Luís 1°, no centro da capital portuguesa.
Segundo o arqueólogo Alexandre Sarrazola, responsável pelo sítio, a descoberta ajuda a explicar a importância no Império Romano de Olissipo – como Lisboa era chamada na época romana.

Foto geral do sítio arqueológico em Lisboa (Foto: Jair Rattner/BBC Brasil)Vista geral do sítio arqueológico português onde foram achados itens romanos 

''Esse achado prova que Olissipo foi um centro de trocas comerciais com outras províncias do Império'', afirma.
No antigo ancoradouro, foram achadas peças arqueológicas que vão do século 1 a.C. ao século 4 d. C., produzidas em Portugal, no Norte da África e nos atuais territórios da Espanha, Itália e França.
Os arqueólogos acreditam que ainda existe a possibilidade de haver outros vestígios, que se encontrariam sob construções mais recentes.

Fragmento de cerâmica produzida na atual Espanha encontrado no local (Foto: Jair Rattner/BBC Brasil  )Fragmento de cerâmica produzida na atual Espanha também foi achado 

Mais vestígios Entre as peças mais importantes encontradas no local, estão dois fragmentos de cerâmica que tinham o nome do proprietário – lê-se Paupii R. A especialista Marta Lacasta Macedo acredita que a primeira palavra seja a declinação do nome Paupius.
Há também fragmentos de cerâmica decorada, que teria vindo da atual Espanha; um pote para especiarias ou outros condimentos de cozinha quase inteiro; e parte de um prato do norte da África, em que apenas a parte superior é vitrificada.
Isso seria uma indicação de que se tratava de uma peça de uso comum. Segundo Sarrazola, essas são pistas sobre a vida cotidiana durante esse período.
Os relatos históricos contam que a cidade de Olissipo, além de ser um centro comercial, era o lugar onde se produzia uma das iguarias do Império Romano: o garum – feito de entranhas de sardinha fermentadas com condimentos.
Na região, havia várias fábricas de garum e, do outro lado do Rio Tejo, eram produzidas as ânforas (grande pote de barro com gargalo estreito e duas asas) em que o produto era exportado para outras províncias romanas.

Ânforas (potes de barro) no chão do sítio arqueológico (Foto: Jair Rattner/BBC Brasil)Ânforas (potes de barro) descobertas no sítio arqueológico em Lisboa 

Escavações As escavações para a construção do estacionamento começaram em julho de 2010. No total, a área é de aproximadamente 80 metros de comprimento por 16 de largura, em sentido paralelo ao Rio Tejo.
Desde o começo da obra, ela foi acompanhada pela equipe de Sarrazola, ligado à empresa Era-Arqueologia. Os primeiros vestígios arqueológicos foram descobertos nas prospecções exploratórias, feitas em agosto de 2010.
Os objetos encontrados pertenciam a várias épocas, incluindo parte do paredão do cais da Casa da Moeda, do século 18, e parte do Forte de São Paulo, que teve grande importância no período posterior à restauração da independência de Portugal, que se separou da Espanha no século 17.
Já os vestígios romanos estavam debaixo de uma estrutura de madeira de cerca de 300 metros quadrados, usada para virar lateralmente barcos a fim de concertá-los.
Sarrazola acredita que, pelo fato de os vestígios romanos estarem embaixo dessa estrutura, eles ficaram protegidos do tsunami que se seguiu ao terremoto de 1755 e das movimentações de terra no final do século 19, que fizeram com que os objetos ficassem distantes da margem atual do Rio Tejo.

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