HIP 102152: a 250 anos-luz de distância da Terra na constelação do Capricórnio
A estrela encontrada é a mais semelhante ao Sol que se conhece, tanto em termos de massa como de composição química. Mas ela fica longe: caso fosse possível viajar à velocidade da luz, seriam necessários 250 anos para chegar até lá. Por isso é impossível ver a HIP 102152 a olho nu, mas um telescópio amador já basta. Para caracterizá-la, porém, foi necessário recolher observações durante 2 noites no Very Large Telescope (VLT), um telescópio com espelho de 8 metros de diâmetro localizado no Cerro Paranal, e também ao longo de 40 noites (das 88 aprovadas) no telescópio de 3,6 metros em La Silla, ambos do Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizados no Chile. Com o equipamento de espectroscopia que integra o VLT, foi possível desdobrar a luz emitida pela estrela nas cores mais básicas e linhas de absorção, e com isso inferir propriedades como temperatura, gravidade, massa e idade. O espectrógrafo HARPS, do telescópio menor, foi usado na busca por planetas em torno da HIP 102152.
Uma diferença química importante é a quantidade de lítio, muito menos abundante na HIP 102152. Os pesquisadores comemoram o resultado, que confirma uma correlação importante entre esse elemento químico e a idade da estrela. “O Sol tem 160 vezes menos lítio do que tinha quando se formou”, diz Meléndez, descrevendo o que ele diz ser “um mistério na teoria clássica da evolução estelar”. Ao comparar essa quantidade com a observada na nova gêmea solar e na 18 Scorpii, uma gêmea solar mais nova, com 2,9 bilhões de anos, ficou claro que o teor de lítio no Sol se encaixa numa progressão natural da evolução das estrelas.
A vida de uma estrela parecida com o Sol desde o nascimento (esq.) até tornar-se uma gigante vermelha
Segundo o potiguar Claudio Melo, diretor científico do ESO no Chile, para esse tipo de estudo não existe instrumentação adequada nos telescópios Gemini e Soar, também no Chile, construídos em parte com financiamento brasileiro. Também não seria possível obter neles o tempo de observação que o grupo conseguiu no ESO. Mais do que o acesso privilegiado aos equipamentos, Melo ressalta a importância de ser parte do empreendimento, algo que só faz sentido porque o país já tem uma comunidade astronômica madura para propor questões que avancem o conhecimento. “Os países membros podem propor projetos que avancem além da tecnologia existente, e participar no desenvolvimento dessa tecnologia”, explica.
O projeto liderado por Meléndez já dura dois anos, de um total de quatro anos. Nesse tempo ele pretende continuar a busca por planetas, por outras estrelas semelhantes ao Sol e caracterizar melhor a HIP 102152. Ainda não foi possível, por exemplo, avaliar a atividade da estrela, que diminui à medida que avança a idade do astro, e o seu período de rotação, que aumenta. Mas quatro anos são insuficientes, afinal os ciclos de atividade solar são mais longos que isso – aproximadamente 11 anos. Mais ou menos a duração do período orbital de planetas gigantes como Júpiter. Por isso ele pretende continuar a pesquisa após o fim do projeto. Para isso, depende da aprovação pelo congresso da entrada do Brasil como membro do ESO. “Se o país decidir embarcar nessa aventura científica, teremos acesso aos equipamentos mais avançados do mundo.”
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