As missões espaciais de hoje, especialmente às de
observação da Terra e do universo, devem muito a uma inovação de 55 anos
atrás. Em 15 de maio de 1958, a União Soviética dava mais um passo à
frente dos Estados Unidos e lançava o primeiro laboratório espacial da
história. Batizado de Sputnik 3, ele sucedeu aos modelos 1 e 2 com
grandes avanços: era um completo laboratório multiuso de ciência
espacial.
"O Sputnik 3 foi o primeiro satélite da União Soviética
dedicado ao estudo das camadas superiores da atmosfera e coletou dados
científicos importantes que permitiram um melhor entendimento das
condições em que os satélites poderiam operar", explica o astrofísico
Thyrso Villela, pesquisador na Divisão de Astrofísica do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O satélite foi lançado dentro do chamado Ano Geofísico
Internacional, que se estendeu de julho de 1957 a dezembro de 1958. Em
formato cônico, tinha 1,73 metros de diâmetro, 3,58 metros de
comprimento e 1.340 quilos de massa, superando os 83,6 kg e os 543,5 kg
dos Sputnik 1 e 2, respectivamente.
O contexto histórico da época fez o lançamento do
Sputnik 3 não se limitar apenas à conquista científica. Em plena Guerra
Fria, o satélite de quase 1,4 toneladas mostrou que seria possível para a
URSS lançar mísseis intercontinentais sobre os EUA, lembra Villela.
Avanços
Mas os ganhos científicos superaram o medo. Em órbita por dois anos, o laboratório representou uma das primeiras missões de longa duração, o que contribuiu para o entendimento de problemas relacionados à operação de artefatos mais complexos no espaço. A capacidade de colocar em órbita satélites por longos períodos proporcionou a projeção de diferentes missões espaciais.
Eram 12 instrumentos a bordo, responsáveis por vários
tipos de medidas, como as relacionadas ao campo magnético da Terra e a
micrometeoritos. Os dados coletados contribuíram para um melhor
entendimento da constituição das camadas superiores da atmosfera e
permitiram ter ideia da existência dos cinturões de radiação que
envolvem a Terra. "Foi possível, por exemplo, estudar os problemas que
esses cinturões causam nos satélites e, com isso, definir órbitas menos
sujeitas a essa influência", argumenta Villela.
Objeto D
No planejamento soviético, o satélite batizado com o número 3 deveria ser lançado primeiro. Porém, desafios no desenvolvimento do seu sistema de telemetria atrasaram o projeto, e o Objeto D, como era chamado nessa fase, acabou sucedendo ao Prosteyshiy Sputnik-1, lançado em outubro de 1957, e ao Tso Sputnik 2 (PS-2), que foi à órbita no mês seguinte. Foi a estratégia soviética para se antecipar aos norte-americanos.
Quando tudo estava pronto, a ejeção foi programada para
27 de abril de 1958. O veículo de lançamento era a versão 8A91 do
foguete R-7, posicionado em Tyuratam, no Cazaquistão. A operação,
contudo, durou apenas 88 segundos. A subida do foguete veio acompanhada
de um efeito de vibrações de ressonância longitudinal. Conforme elas
ganharam intensidade, os tanques de combustível foram esvaziados pouco
mais de um minuto após o lançamento.
A falha, entretanto, não desestimulou a iniciativa
soviética. Menos de um mês depois, o foguete de backup do Objeto D foi
ao ar, entrando em órbita com uma inclinação de 65,2 graus.
Em maio de 1959, o Sputnik 3 deixou de retornar
informações úteis, embora seu transmissor de rádio continuasse ativo,
alimentado por células solares. Em abril do ano seguinte, em
decomposição, o satélite ingressou na atmosfera da Terra e foi destruído
por aquecimento por atrito. A estratégia soviética prosseguiu com o
Sputnik 4, lançado em 15 de maio de 1960, com 4.540 quilos de massa - um
novo recorde para a época.
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