quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Novo ancestral humano: Homo naledi


Uma equipe internacional de cientistas anunciou esta quinta-feira, em conferência de imprensa, a descoberta de uma nova espécie de humanos antigos numa gruta na África do Sul. Os seus resultados foram publicados em dois artigos separados na revista online de acesso livre eLife.

A nova espécie foi baptizada Homo naledi do nome da gruta, Dinaledi – que em sotho, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul, significa “as estrelas”. Situada a uns 40 quilómetros de Joanesburgo, a gruta faz parte do local arqueológico conhecido como "Berço da Humanidade", que a UNESCO classificou como patrimônio mundial devido à riqueza de depósitos com fósseis que alberga nas suas inúmeras grutas.
Os 1550 fósseis agora analisados, que são sobretudo ossos mas também dentes, foram recolhidos durante duas expedições à gruta, respectivamente em Novembro de 2013 e Março de 2014. Quatro dezenas de cientistas, liderados por Lee Berger, paleoantropólogo da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, participaram no empreendimento.
Desde 2008 que Berger começou a realizar uma prospecção minuciosa do Berço da Humanidade. E em 2010, já descobrira aliás uma nova espécie de australopiteco, o Australopithecus sediba. Não admira portanto que a atual descoberta tenha agora feito exclamar a Eric Delson, do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque, citado pelo New York Times: “Berger does it again!” (algo como “Berger volta a marcar!”)
Os ossos provêm de pelo menos 15 indivíduos e “representam a maior coleção de restos de hominídeos jamais descoberta no continente africano”, lê-se num comunicado da Universidade do Colorado (EUA), que também participou no trabalho.



“Astronautas subterrâneos”


O novo “homem das estrelas” merece duplamente a sua alcunha. É que, para aceder à câmara da gruta onde se encontravam a ossadas fósseis – a “câmara das estrelas” – foi precisa a ajuda de seis autênticas “astronautas subterrâneas”, lê-se ainda no mesmo comunicado. Seis jovens mulheres que desceram pela única via de acesso existente: uma fissura vertical, longa de 12 metros, cuja largura é por vezes da ordem dos 20 centímetros!
“A câmara que contém os fósseis está a uns 30 metros de profundidade e a cerca de 80 metros de distância, em linha recta, da entrada atual mais próxima da câmara”, lê-se num dos artigos publicados na eLife, que descreve a descoberta focando-se no contexto geológico e nas condições de fossilização das ossadas. 


“Na gruta, encontramos adultos e crianças que pertencem ao gênero Homo, mas que são muito diferentes dos humanos modernos”, disse por seu lado o co-autor Charles Musiba durante a conferência de imprensa que decorreu em Maropeng, o centro oficial de acolhimento dos visitantes ao Berço da Humanidade. “Eram muito pequenos e tinham o cérebro do tamanho do dos chimpanzés.” Outro elemento da equipa, John Hawks, da Universidade do Wisconsin (EUA), acrescentou: “Tinham o cérebro do tamanho de uma laranja e um corpo muito esbelto.” Na idade adulta, mediam em média um metro e meio de altura e pesavam 45 quilos.
“O minúsculo cérebro e a forma do corpo de Homo naledi são mais próximos do grupo pré-humano dos australopitecos do que de nós”, fez notar Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres e autor de um artigo, na mesma revista, que comenta os resultados. “Mas as mãos, os pulsos e os pés são muito semelhantes aos do homem moderno.”
Caley Orr, também da Universidade do Colorado e co-autor do artigo dedicado aos resultados da análise dos fósseis propriamente ditos, esteve a cargo do estudo das mãos e deu mais pormenores: “A mão tem características de tipo humano que lhe permitiam manipular objetos, mas ao mesmo tempo tem os dedos curvos, bem adaptados para trepar às árvores.”


As mãos de Homo naledi “levam a crer que tinha a capacidade de usar ferramentas”, os seus dedos eram muito curvos e, ao mesmo tempo, é “praticamente impossível distinguir os seus pés dos do homem moderno”, acrescentam em comunicado conjunto a Universidade de Witwatersrand, a Sociedade National Geographic (co-financiadora do projeto) e o Ministério sul-africano da Ciência. “Os seus pés e as suas pernas compridas permitem pensar que era capaz de caminhar durante muito tempo.”
Contudo, a posição exata da nova espécie na árvore genealógica da evolução humana permanece desconhecida, bem como a idade dos fósseis.



Fonte: publico.pt

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